Vamos sentar à mesa para comemorar a nossa vitória de Pirro;
mesmo os que nunca lutaram de verdade ou se aproveitaram da situação, e os que
viram se esvair pelas estradas da vida os restos do bom combate junto com seus ideais;
vamos lembrar os que viram os fantasmas da guerra na vida real, na
intolerância, na incompreensão e na sobrevivência; vamos lembrar os exilados
por conta de sua ideologia, arte ou religião; os mártires, os calabás e os Judas
que quiseram ver seus sonhos de paz, liberdade e igualdade
brotar nos quatro cantos do mundo e acabaram presos ou mortos
nos porões da ditadura.
Vamos falar daqueles que o tempo lhes roubou a juventude (e
a vida), sonhando acordado, fumando maconha, cheirando crack ou bebendo
cachaça; vamos lembrar os que envelheceram nas filas do INSS (e dos bancos), desrespeitados
na sua humildade, paciência e pobreza; vamos falar dos que viram seus filhos
morrerem nas curvas do destino, num assalto à mão armada, por uma bala perdida
ou arrastado por um carro dirigido por um motorista bêbado; vamos nos lembrar
do antigo compositor baiano que virou ministro e dos “companheiros” que faziam
piquete nas portas das fábricas que hoje se locupletam com as benesses do governo.
“Nossos heróis morreram de overdose e os meus inimigos estão
no poder”; os partidos viraram moeda de escambo e os políticos sérios estão
encima do muro. O sonho comunista acabou, o capitalista também. O rei está nu e
o povo perdido no mato sem crédito e na cidade sem emprego. A reforma
ortográfica não melhorou nosso português (nem o do presidente). A gripe suína
não diminuiu o turismo na Argentina (paraíso dos emergentes) nem o intercambio
de jovens para o México.
No congresso, cheio de sarnelas (mistura de sarney com mazelas)
e de atos secretos e safados, os escândalos não param de acontecer.
Alguém já sugeriu transformar aquela casa num grande museu
(do ócio e da maracutáia). Acho uma boa idéia (51)! Chega de pseudo-reformas,
de toma lá dá cá, de votação de cartas marcadas, de acordo fisiologistas, de
CPI para inglês ver (e deputado aparecer), de partidos sem ideologia, de
bancadas corporativistas, e de atos secretos e safados.
O Brasil está crescendo na contra mão da história, apesar da
crise. O pobre come mais e trabalha menos por conta do bolsa-família; o rico
compra carro novo com subsídio do governo que agora é credor do FMI. Empresário
constrói prostíbulo com dinheiro do BNDE; Indústria fecha por falta de capital
de giro; IGP-M está negativo; o preço do barril de petróleo despenca para
metade e o da gasolina não baixa nos postos. É o samba criolo da economia doida
(ou o rock de olhos verdes do capitalismo neoliberal).
Quanta incoerência econômica e insensatez política; quanta falta
de espírito público e cinismo (na defesa de colegas que lhes devem favor ou têm
o rabo preso). Eles “estão se lixando para ...” pois sabem que se reelegem. Não
precisa ser pitonisa para fazer esta previsão, a cegueira do inconsciente
coletivo se revelará nas urnas. (it is the end) Nossa civilização está em crise
e sua cultura em decadência porque falhou na base (evoluiu na tecnologia e no
material) e esqueceu o principal – o espiritual (o ser humano). E o planeta caminha para seu holocausto, vítima do aquecimento
global advindo da poluição, do descaso, da ganância e da insensatez do homem.
Carlos Henriques de Araújo
Membro da UBE-PI
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