quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Brasileiros dão dicas para estudar na Universidade de Oxford, na Inglaterra

Melhor instituição do Reino Unido, Oxford atualmente tem só 30 brasileiros.
Veja dicas para conseguir uma vaga na graduação ou na pós-graduação.
Vinícius Rodrigues Vieira é estudante de doutorado da Universidade de Oxford (Foto: Arquivo pessoal) 
Vinícius em evento promovido pela Mansfield College, na Universidade de Oxford (Foto: Arquivo pessoal)
No sábado (25), o pesquisador brasileiro Vinícius Guilherme Rodrigues Vieira, de 28 anos, voltou ao Reino Unido para iniciar seu terceiro ano como estudante de doutorado da Universidade de Oxford. Desde maio, ele esteve em várias cidades do Brasil em uma viagem de trabalho de campo para sua pesquisa, que compara os impactos da globalização nas negociações econômicas internacionais do Brasil e da Índia. Vieira é um dos 30 estudantes --a maioria de pós-graduação-- atualmente matriculados em Oxford, a primeira universidade de língua inglesa do mundo, considerada a melhor do Reino Unido e a quarta melhor do planeta.
O número de brasileiros na instituição é pequeno em comparação com outras nacionalidades: do total de mais de 21 mil estudantes, 1.400 são cidadãos dos Estados Unidos, cerca de 800 são chineses e entre 500 e 600 têm passaporte alemão.
Porém, segundo o vice-chanceler da universidade, Andrew Hamilton, a Sociedade Brasileira de Oxford, associação de estudantes e professores com algum vínculo ao país, "tem uma presença desproporcional". Ele esteve em São Paulo e em Brasília na semana passada para promover a universidade e atrair mais alunos brasileiros.
Fazer parte deste grupo, segundo diversos brasileiros que estudam ou já estudaram lá, é difícil, mas vale a pena. "A Oxford me ofereceu bolsa que cobre 90% de todos os custos sem nenhuma contrapartida de trabalho, foi uma condição muito boa", afirma Vieira, que fez a graduação em jornalismo na Universidade de São Paulo (USP) e o mestrado em sociologia na Universidade Berkeley, na Califórnia, nos Estados Unidos.
Em Oxford, Roberta Gregoli estuda gênero e sexualidade no cinema popula brasileiro (Foto: Ana Carolina Moreno/G1) 
Em Oxford, Roberta Gregoli estuda gênero e sexualidade no cinema popula brasileiro
(Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Sistema de tutoria
Roberta Gregoli, formada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bolsista do mestrado do programa Erasmus Mundus, no qual estudantes fazem o curso de pós-graduação em pelo menos duas universidades europeias, hoje faz sua tese de doutorado na quase milenar universidade britânica. Ela pesquisa a representação da mulher no cinema popular brasileiro.
A doutoranda destaca, entre as qualidades de Oxford, o sistema de tutorias da instituição e a manutenção de tradições que não existem no Brasil. "Tem um aspecto pessoal que acho que você só encontra lá, como os colleges e usar blacktie toda semana", diz.
A estrutura de ensino de Oxford não se limita à divisão dos estudantes em departamentos de cada área do conhecimento ou nas salas de aula das disciplinas que cursam. Todo estudante da instituição pertence a um dos 38 colleges, entidades que fazem parte da universidade e que servem como pilar de sustentação para toda a vida acadêmica dos alunos. Cada college tem sua história e suas especificidades, mas, segundo o vice-chanceler Andrew Hamilton, "não há como errar" na hora de escolher o seu.
Processo seletivo para 2013:
Graduação: inscrição até 15 de outubro, entrevistas em dezembro e resultado em janeiro
Mestrado ou doutorado: prazos de inscrição entre novembro e janeiro, e resultado por volta de março
Bolsas de estudo
Roberta pertence à Queens College e tem todos os custos do doutorado custeados pela bolsa Clarendon, distribuída todos os anos a cerca de 120 estudantes com base no mérito. "No meu caso, tive apenas que preencher um campo do formulário", explicou ela. Vieira, que pertence ao Nuffield College, um dos mais ricos de Oxford, não teve seu nome enviado para a seleção da Clarendon, e então procurou diversos departamentos até receber a notícia de que também seria bolsista.
Ele tem bolsa da universidade e do Santander, que somam 20 mil libras anuais (R$ 64 mil), e recebe de seu college 4 mil libras por ano (cerca de R$ 12 mil) de auxílio financeiro. Para seu trabalho de campo no Brasil, ele ganhou bolsa adicional de um total de 2.100 libras (aproximadamente R$ 6.700). Sua viagem à Índia em 2011, para pesquisar a outra parte de sua tese, também foi custeada pela instituição.
Uma das diferenças que o brasileiro aponta entre Oxford e universidades dos Estados Unidos é a contrapartida para o financiamento estudantil. Em Berkeley, ele dava aulas como professor assistente a um grupo de cerca de 30 estudantes, como parte dos requisitos para receber a bolsa de estudos.
Como seu orientador se aposentou, o brasileiro sabia que seria difícil seguir estudando em Berkeley e, por isso, se inscreveu em outras 12 universidades americanas, além de uma britância. "O application de Oxford foi o último que fiz. Não esperava passar, porque já tinha sido rejeitado em Yale, Harvard, Princeton", contou ele, que diz ter passado dois dias preparando os documentos: três cartas de recomendação, dois exemplos de trabalho escrito com até oito páginas (pode ser algum trabalho já apresentado), as certificações acadêmicas e um resumo de até duas páginas do projeto de pesquisa.
"Eles estão mais interessados em saber se você tem conhecimento da área e capacidade de propor uma boa pesquisa, e menos em saber se essa vai ser sua pesquisa final", diz.
DICAS DE QUEM PASSOU NA UNIVERSIDADE DE OXFORD:
Cartas de recomendação

A instituição pede três cartas de ex-professores ou chefes do candidato. Uma boa dica para quem já estudou fora do Brasil é, além das cartas de professores estrangeiros, incluir uma do seu país de origem; vale pesquisar na internet modelos de cartas para ajudar quem for redigi-la.
Candidatos a cursos de graduação

Inglês: A universidade exige notas altas nos exames de inglês (cerca de 100 no Toefl baseado na internet ou 7 no Ielts). Quem puder fazer cursos em inglês terá mais facilidade em atingir a nota mínima e em acompanhar as aulas. O sistema de colleges em Oxford, porém, pode auxiliar alunos com dificuldades no idioma. Enquanto isso, praticar a escrita em inglês pode ajudar na hora de produzir o material do processo seletivo.
Processo seletivo: Diferentemente das universidades americanas, em Oxford, os critérios de admissão não incluem atividades extra-curriculares (como participação em olimpíadas, esportes ou trabalho voluntário). A seleção é feita com base nas cartas de recomendação, no trabalho escrito produzido pelo candidato e nas notas dos exames exigidos pela instituição e de todo o ensino médio. Portanto, manter um bom histórico escolar é imprescindível.
Candidatos a cursos de pós-graduação
Universidade de origem: Em geral, é mais fácil ser aceito no doutorado em Oxford se o aluno fez mestrado na própria instituição ou em universidades de renome dos EUA ou Europa. Há casos de mestres formados no Brasil que foram rejeitados no doutorado de Oxford, mas aceitos para um segundo mestrado lá.
Projeto de pesquisa: Apesar de não ser comprido, o projeto apresentado no ato da inscrição deve demonstrar que o candidato é capaz de desenvolver uma ideia consistente de pesquisa. Além disso, é importante entrar em contato com um potencial orientador da instituição para verificar se a linha de pesquisa dele é compatível com seu projeto.
Universidade de Oxford, no Reino Unido (Foto: Divulgação/Nasir Hamid/University of Oxford) 
Universidade de Oxford, no Reino Unido (Foto: Divulgação/Nasir Hamid/University of Oxford)
Tradição e modernidade
Ninguém sabe exatamente quando foi fundada a Universidade de Oxford, localizada na cidade inglesa homônima, com cerca de 150 mil habitantes a 80 quilômetros ao noroeste de Londres. Porém, a instituição tem pelo menos 900 anos de idade e já foi a casa de 26 primeiros-ministros britânicos, 30 líderes mundiais, como o ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, 26 vencedores do Prêmio Nobel, como a ativista de Mianmar Anng San Suu Kyi, 11 santos e cerca de 120 atletas medalhistas olímpicos.
O vice-chanceller da universidade Andrew Hamilton afirma que a história de Oxford não a segura no passado. "Sim, nós temos 900 anos de idade, mas estamos olhando muito para o futuro de diversas maneiras. Buscamos pensamentos independentes e originais", afirmou ele, durante palestra promovida pela Fundação Estudar no prédio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), no dia 21 para jovens interessados em estudar no exterior.
A instituição já povoou de diversas maneiras o imaginário dos brasileiros que tiveram a chance de passar por lá. Para Roberta, que ingressou na universidade em 2010, as construções lembravam Hogwarts, a escola fictícia de bruxos da série de livros do Harry Potter, da escocesa J. K. Rowling. As cenas que mostram a enorme sala de jantar de Hogwarts foram filmadas dentro de Oxford, no Christchurch College.
Se a pessoa gosta de estudar, Oxford vai ajudá-la a atingir todo o seu potencial"
Alexandre Andrade de Mello,
ex-aluno de Oxford
Entre 1984 e 1987, Antônio Bonchristiano, economista que fundou a empresa Submarino.com e atualmente é co-presidente da GP Investimentos, foi aluno de um dos mais populares cursos de graduação de Oxford, que integra as disciplinas de política, filosofia e economia, a memória mais forte ao pisar na cidade universitária --Oxford não tem um campus com limites definidos-- vinha do filme "Carruagens de fogo", popular à época.
Quando foi convidada a fazer um pós-doutorado em Oxford, a referência principal de Ítala D'Ottaviano, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), era o livro "Alice no país das maravilhas", escrito nas dependências da instituição por Lewis Carroll, um dos muitos célebres ex-alunos.
Alexandre Andrade de Mello, analista de investimentos, fez seu mestrado em Oxford em economia financeira. Segundo ele, um dos atrativos do curso foi justamente a abordagem original e interdisciplinar dos conteúdos, um dos diferenciais da universidade, segundo ele. "Se a pessoa gosta de estudar, Oxford vai ajudá-la a atingir todo o seu potencial", disse Mello.
Em entrevista a jornalistas brasileiros, Andrew Hamilton negou que o atual momento de crise na Europa e aumento do consumo no Brasil seja o motivo para a visita. "Não é que o Brasil é importante para Oxford agora, ele tem sido muito importante para nós há muito tempo."
Fonte: http://g1.globo.com

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