Os dados são alarmntes; denúncia de abuso cresce 23%.
As queixas contra o padrasto começaram repentinamente. “Eu tenho nojo dele, não o suporto mais”, dizia a menina de 12 anos. O repúdio súbito era encarado como antipatia de pré-adolescente. A família não se atentou que poderia ser um sinal de abuso, um pedido de socorro. Foi só quando a menina desabafou com a prima mais velha sobre as carícias veladas do padrasto que o problema veio à tona. O abusador aproveitava a ausência da esposa e mãe da garota para agir. Acariciava as partes íntimas da pré-adolescente, que não sabia o que fazer.
Nem todas as crianças e adolescentes vítimas de violência sexual conseguem romper o silêncio. Família e amigos precisam estar atentos. E, nesse processo, a denúncia é fundamental. Este ano, de janeiro a abril, foram 115 registros ao Centro de Referência Especializada em Assistência Social - Regional Fortaleza (Creas). Um aumento de 23% nas denúncias em relação ao mesmo período no ano passado.
No Ceará, de um total de 1.546 denúncias relacionadas aos direitos da criança e do adolescente, 338 estão relacionadas ao abuso sexual. São quase três denúncias por dia. O dado foi divulgado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em relação ao período de janeiro a abril deste ano.
Especialistas avaliam como positivo o aumento de registros de abuso sexual. “O tema ganhou mais visibilidade e as pessoas estão mais conscientes da necessidade de denunciar. Só assim dá para fazer o acompanhamento das vítimas”, opina a supervisora do Creas, Regiana Nogueira.
Com o crescimento de denúncias, aumenta também o número de atendimentos. Na rede Aquarela, que atende as notificações das Secretarias Executivas Regionais III, IV e V, foram 229 atendimentos, entre janeiro e abril deste ano. No ano passado, no mesmo período, foram 208. O acréscimo de 10% é considerado uma conquista.
Segundo o balanço do Creas, houve uma queda de 44% nas denúncias contra exploração sexual infantil. Este ano, foram apenas 24. Em 2011, 43. Para Regiana Nogueira, a redução pode ser resultado das ações que estão sendo desenvolvidas para coibir o turismo sexual de crianças e adolescentes. “Mas há de atentar também para as subnotificações. É um crime organizado difícil de combater”, classifica.
Dos 229 atendimentos na rede Aquarela, apenas 11 eram relacionados à exploração sexual. Os 218 demais tratavam de abuso. “O desafio é maior porque os adolescentes não se reconhecem como explorados, a rede de tráfico é intensa e as pessoas têm medo de denunciar”, diz a coordenadora da rede Aquarela, Ana Paula Costa Rodrigues.
ENTENDA A NOTÍCIA
Hoje é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, instituído pela lei federal nº 9.970. A data faz alusão à morte brutal da menina Araceli, em Vitória (ES), na década de 1970.
Serviço
Para denunciar contra abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes ligue:
Municipal: 0800 285 0880
Estadual: 0800 285 1404
Nacional: 100
Alerta
Vítimas de violência sexual
Indicadores físicos
Roupas rasgadas com manchas de sangue;
Hemorragia vaginal ou retal;
Secreção vaginal ou peniana;
Infecção urinária;
Dificuldade para caminhar;
Gravidez precoce;
Queixas constantes de gastrite;
Dor pélvica;
Hematomas, edemas e escoriações na região genital e mamária;
Infecções/doenças sexualmente transmissíveis.
Indicadores comportamentais
Mudança brusca de comportamento e humor (não querer comer, comer demais, apatia agressividade);
Sono perturbado, pesadelos frequentes, suores, agitação noturna;
Masturbação visível e continuada;
Timidez em excesso;
Tristeza ou choro sem razão aparente;
Medo de ficar sozinho com alguém em algum lugar;
Baixa autoestima, estado de alerta constante, dificuldades de concentração, fuga da realidade;
Interesse precoce por brincadeiras sexuais e/ou erotizadas;
Conduta sedutora.
Atenção
Evite deixar crianças com quem não conhece bem;
Saiba onde os seus filhos estão e converse com eles sobre o assunto
de maneira aberta. Sempre com respeito à idade da criança.
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