Caso reabriu debate sobre a falta de solidariedade e individualismo dos chineses
Mozer Rhian Oliveira não se considera um herói. O brasileiro de 27 anos que virou notícia na imprensa chinesa e internacional após ter evitado um assalto a uma mulher na cidade de Dongguan, no sul da China, disse ao G1 que só cumpriu com “a obrigação de qualquer pessoa: ajudar uns aos outros”.
Oliveira mora na província chinesa de Guandong há quase três anos. Trabalha como técnico calçadista numa empresa francesa. Ele, que morava com os pais no Rio Grande do Sul, onde sua namorada ainda mora, vive sozinho no país.
Ele forma parte da maior comunidade de brasileiros na China. São cerca de 3 mil pessoas dedicadas à índústria de sapatos, quase todos gaúchos.
Na noite da última sexta-feira (4), quando estava indo para a academia, Oliveira viu, na frente do prédio, uma moça sendo assaltada.
O brasileiro Mozer Rhian Oliveira (Foto: Arquivo pessoal)
Os agressores fugiram, aparentemente apavorados pelo sangue que apareceu na ferida. Ninguém tentou intervir para ajudar Oliveira durante toda a confusão.
A moça devolveu o favor ao brasileiro e o socorreu, com ajuda de outro chinês. Ela o acompanhou no hospital e pagou todas as despesas.
Já fora do hospital, com uma ferida de 15 pontos na testa e o reconhecimento da imprensa e das autoridades chinesas, Oliveira confessou estar sobrecarregado pela repercussão do caso. (Clique para ver matéria no site www.news.ifeng.com)
Ele recebeu flores, um cesto de frutas e um prêmio de 50 mil iuanes (cerca de R$ 15.500) da polícia.
Enquanto se recupera, Oliveira trabalha em casa, e afirma que, cada vez que sai na rua, é fotografado e abordado.
Leia a entrevista:
G1 - Você já tinha vivido uma situação assim no passado?
Mozer Oliveira - Exatamente antes do Ano-Novo chinês, no mesmo lugar, ocorreu o mesmo caso. Um rapaz estava pegando a bolsa duma mulher, e eu o segurei por um braço. No mesmo momento, tinha policiais em torno de nós, e elesprenderam o rapaz. Porém, na última sexta-feira, não tive essa sorte de os policiais estarem por perto, então fui agredido.
G1 - Os chineses elogiam sua ação, mas ninguém o ajudou no momento do ataque.
Oliveira - Sinto que foi uma situação anormal, não é comum ver os chineses brigando e muito menos brigando com estrangeiros. Penso que foi uma situação anormal, e acho que foi uma coisa do momento, e eles, os atacantes, se viram afugentados pelo fato de eu ter parado o assalto. Como estavam em maioria, usaram a força que tinham. Mas eu me sinto tranquilo, estou me sentindo seguro, estou me sentindo muito bem, amparado pelo governo (local) e também muito bem amparado pela polícia, porque estão me dando todo o suporte necessário. Estou me sentindo muito tranquilo, tirando a canseira e a fadiga por toda essa repercussão, eu me sinto tranquilo.
G1 - A falta de solidariedade e o excessivo de individualismo estão presentes no debate da sociedade chinesa atual. Você acha que estas ações servem de exemplo para conseguir mudanças nesse sentido?
Oliveira - Eu sinto assim uma gratidão da população comigo, e ontem eu ouvi falar a respeito como heroísmo. Mas eu não me considero um herói, não seria muito correto que me chamem assim, porque eu sou só um cidadão normal que cumpriu com sua obrigação, com a obrigação de uma pessoa normal que considero que deve ter feita numa situação dessas, indiferentemente da nacionalidade, indiferentemente do país em que esteja, eu acho que são obrigações normais, ajudar uns a outros.
G1 - Você faria a mesma coisa no Brasil?
Oliveira - Se fosse no Brasil, acho que ajudaria da mesma forma. Só que, claro, quando for ajudar, tanto na China como no Brasil, é preciso pensar de que forma. Eu, na verdade, ajudei sem pensar, não pensei se tinham comparsas, com quantos eles estavam, se estavam armados, foi um impulso. Porém, a polícia sempre pede para não reagir. Eu acho que, se fosse no Brasil, poderia ter sido pior, porque no Brasil quase todos os bandidos andam com arma de fogo. Aqui na China, pelo fato de não ter arma de fogo, se torna mais seguro, mas, claro, corre-se o risco como eu corri.
G1 - Você seguiu em contato com a moça?
Oliveira - Nunca a tinha visto, me parece que ela ia na mesma academia que eu, mas nunca tinha conversado com ela. Eu estava a 20 metros de distância e não consegui ver quem era, eu só vi que estava sendo assaltada e corri para ajudar. Mas ela foi muito generosa comigo, porque quando ela viu que eu estava sangrando na frente do prédio da academia, ela me levou para o hospital juntamente com outro chinês. Me colocaram num táxi, e ela cobriu até as últimas despesas e deu auxílio. Eu peguei o telefone dela, e ela está frequentemente ligando para saber como estou.
G1 - Você soube sobre o destino dos assaltantes?
Oliveira - Eles foram detidos umas 20 horas depois. A polícia foi muito rápida, e os prenderam com ajuda das câmeras de segurança. Eu os reconheci no domingo, e os oficiais me disseram que, no mínimo, ficarão presos por 10 anos.
Mozer Rhian de Oliveira recebe no hospital chinês a recompensa pela boa ação (Foto: Reprodução/Ifeng)
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário